Depressão na adolescência
- Francine Longhi
- 1 de mai.
- 3 min de leitura

A fase da adolescência se caracteriza por uma fase de muitas perdas, os adolescentes se deparam mais que nunca com momentos de contradições, inseguranças, confusões na busca de sua identidade, na busca de saber quem é, que gosta, o que quer ser, o que fazer..... Diante de tantos conflitos, ainda precisam dar conta das exigências que nossa sociedade impõe da necessidade de se fazer escolhas, em mundo que oferece uma gama infinita de possibilidades.
É certo que a liberdade de escolha, traz bastante insegurança, e ela implica em ter responsabilidade por aquilo que escolhemos e a maioria das pessoas parecem ter medo da responsabilidade o que torna ainda mais angustiante escolher. E isso afeta diretamente nossos jovens. Principalmente se não foi dado a eles referencias para que eles possam se apoiar para fazer tais escolhas.
Questões sobre sexualidade, dificuldade em lidar com frustrações, o tão comentado bullying, além de pressão pela escolha da carreira e por um bom desempenho escolar estão na base dos conflitos dos jovens que podem funcionar como agravantes para a depressão.
O adolescente precisa ter uma estrutura psíquica e emocional que dê a ele suporte para lidar com todos estes conflitos. E como já viemos falando, esta estrutura é adquirida ainda na infância.
Falamos nos programas onde foi abordado sobre o desenvolvimento infantil a respeito da importância de saber lidar com as frustrações e como é importante ensinarmos aos nossos filhos desde pequenos a lidar com as perdas ou quando eles não conseguem alcançamos ou ter o que desejam.
Os adolescentes de hoje parecem não suportar que algo de errado em suas vidas ou que alguma expectativa que tenham não se cumpra. E que ao se depararem com qualquer desilusão sentem-se destruídos e machucados.
Um adolescente despreparado para lidar com frustrações provavelmente vivencia grandes crises emocionais por motivos, às vezes, superficiais, experimentando, constantemente, o sentimento de insatisfação com o mundo, com os outros e consigo mesmo.
Lidar com as frustrações, ser tolerante com o que é diferente a nós, se aprendem desde a infância e segue ao decorrer da nossa vida, nunca para.
Com as demandas e exigências do mundo contemporâneo, os investimentos de afeto tanto nas crianças e por consequência respingando nos adolescentes vem diminuindo, já não temos tanto tempo para gastar com isso. Dar afeto, estar com o outro implica em tempo.
Muitas vezes é pelo consumo que se tenta compensar esta falta de investimento afetivo. Pelo consumo se tenta tapar angustia dos pais pela culpa que sentem de não corresponder as demandas de seus filhos e oferecem bens materiais como forma de reparação, como dos filhos que buscando nos pais um suporte emocional para lidar com as suas angustias ao não encontram tentam substituir pelo consumo material.
Também, e agora mais que nunca, se está buscando a medicalização como uma forma de solução fácil e rápida para lidar com o que já não temos tempo nem autoridade de lidar. Através da imposição de um diagnóstico, colocamos a responsabilidade de nossos fracassos num possível transtorno.
Claro que não estou me referindo a casos graves em que há sim um transtorno mental grave que precisa e é indispensável o uso de medicamentos, me refiro a banalização do uso de medicamentos para qualquer situação, sem a real necessidade de utiliza-los.
É muito sério e muito preocupante a depressão na adolescência que muitas vezes pode ter consequências muito graves como o suicídio. Há uma angustia quase que generalizada em nossos jovens que não conseguem lidar com tanto sofrimento.
Buscar tratamento nestes casos é crucial, a psicoterapia auxilia muito nestes casos e em situações mais graves como ideação suicida, buscar junto um tratamento medicamentoso e de extrema importância.
Porem, apesar disso, acredito que seja importante que nós, pais, educadores e profissionais da área da saúde, possamos entender e aceitar nossas responsabilidades diante deste quadro tão complexo. Precisamos nos questionar como nossa forma de vida e nossas escolhas estão influenciando para agravar ainda mais este quadro.
Precisamos entender que somos constituídos por um vazio, um vazio que é inerente a nós, é uma ausência que nos completa. A vida é um aprender a lidar com este vazio, é encontrar formas criativas de sublimar nossas angustias.
Há um momento mais importante do que a primeira palavra ou o primeiro passo de uma criança: a descoberta do vazio. O que fazemos diante dele é também o que nos torna pais e mães.
“Saber aguentar e escutar a dor de um filho, sem tentar calar com coisas o que não pode ser calado com coisa alguma, é um ato profundo de amor”.






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